sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bezerra da Silva - Produto Do Morro

Olá pessoal, esta semana lembrei de um livro que li a algum tempo mas que ainda está na memória, pois trata de um dos maiores malandros de todos os tempos, ele mesmo Bezerra de Silva.

Este livro foi idealizado por Letícia C. R. Vianna, que é mestre em antropologia social pena UNB, com doutourado pelo Museu Nacional (UFRJ) e que em 1994 elaborou uma pesquisa com intenção de pesquisar o samba de Bezerra da Silva, desta pesquisa surge um livro de 168 páginas de fácil leitura e muito bem escrito.

Review:
O livro conta a história de José Bezerra da Silva um nordestino de infância difícil, criado pela mãe e pelo padrasto que sempre o pressionavam para aprender ofícios tais como mecânico, pedreiro, ferreiro entre outros, mas a música já falava alto.
Foi para marinha mercante para seguir o "ofício" do pai, que abandonou a família e veio para o Rio de Janeiro.
Depois de muitas confusões e dissabor na marinha mercante, foi expulso em solenidade oficial, onde desacatou a todos presentes gritando: "Na marinha mercante só tem veado!"
Veio para o Rio clandestino em um navio de açucar, com o endereço do pai...




Recomendo este livro para quem gosta e quem recrimina Bezerra da Silva, pois mostra como foi a vida sofrida e a virada que ele deu e se tornou um sambista referência no seu estilo musical.

Escute Bezerra cantando um de seus samba e o documentário O dia que o bambu quebrou no meio, que mostra as homenagens de seus amigos no dia de seu velório.

Amplexos...

sábado, 17 de abril de 2010

Dica da Semana - Os Serranos

Pessoal, hoje vou iniciar postagens com dicas do mundo da música que ví nesta semana.

Infelizmente o Rio de Janeiro só fala de funk, pagode, samba e música internacional deixando uma lacuna no restante das músicas espalhadas pelo Brasil.

Descobri nesta semana, meio que sem querer, um grupo de música regional chamado Os Serranos. Segue a história do grupo que encontrei no site deles.
Recomendo a vocês a observância do DVD Os Serranos ao Vivo na Expointer, é bem alegre e muito bem gravado.
Conjunto musical gaúcho, fundado em 1968 em Bom Jesus, na serra do Rio Grande do Sul.
No início, uma dupla de acordeonistas - Edson Becker Dutra e Frutuoso Luis de Araújo, ambos nascidos em Bom Jesus.A dupla gravou seu primeiro disco - um compacto duplo - em 1969 - na gravadora Copacabana, tendo como padrinho e apoiador, Honeyde Bertussi. Este, já artista famoso à época, escreveu uma carta de recomendação àquela gravadora e OS SERRANOS se foram para São Paulo e... gravaram!!!
Os destaques deste primeiro disco foram: Minha Querência (chote em homenagem a Bom Jesus) e a valsa Suspiro de uma saudade.
Três anos mais tarde, voltaram a São Paulo e, pela gravadora Califórnia, gravaram o primeiro LP - Nostalgia Gaúcha - , já fazendo sucesso com Terol do Tio Domingos e a milonga Chimarreando.
Nos anos seguintes estiveram contratados pela gravadora Chantecler, com a qual lançaram nove LPs, todos com grande destaque.
Mais tarde, assinaram contrato com outras gravadoras igualmente importantes: RGE, Som Livre, ACIT e Galpão Crioulo Discos.
OS SERRANOS fazem shows e bailes por muitos lugares Brasil e também se apresentam em cidades de países do Mercosul. Igualmente, atuam em feiras, clubes e CTG's.
Tem 26 discos inéditos, sendo um dos conjuntos que mais vende discos no seu gênero, no país.
Foi o pioneiro na realização de um CD voltado para o Mercosul, no caso, Mercosul de Canções.
Foram feitas gravações conjuntas com importantes artistas do Uruguai, Argentina e Paraguai.
Tem Três discos de ouro. "Isto é... Os Serranos", "Bandeira dos Fortes" e "Os Serranos Interpretam Sucessos Gaúchos".
Em 2009 foi indicado ao Grammy Latino, na categoria de melhor álbum de música de raízes Brasileiras - Regional - , pelo CD Os Serranos - 40 anos - Sempre Gaúchos!
Recebeu diversas premiações que estão elencadas no "release" deste site.
Tem 2 DVDs gravados, Os Serranos ao Vivo na Expointer e Os Serranos 40 anos - Sempre Gaúchos.

Recomendo a vocês a observância do DVD Os Serranos ao Vivo na Expointer, é bem alegre e muito bem gravado.


Vídeo - Os Serranos - Bugio do Chico (DVD AO VIVO - Na Expointer)


Amplexos...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pesquisa de Opinião...

Pessoal, ontem andei pensando em escrever sobre músicas ridículas, fazer um Top 5 das melhores (ou piores), mas são tantas que não sei qual escolher...

Vou falar só de uma, da campeã, ou seja, da música mais RIDÍCULA da face da terra.

Deixei uma enquete para que vocês possam me ajudar com a escolha, sei que essas não são as únicas ridículas, mas foram as que eu separei.

Para falar a verdade tenho uma preferida, mas não vou falar... vou dar só uma dica, sua foto está em alguma parte do meu blog

Deem sugestões que farei uma segunda enquete para eleger a PIOR música da face da terra.

Amplexos...

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Especial Chico Buarque - Cálice (Parte 5/5)


Em meu último post da série, observarei sobre uma das músicas mais ácidas de Chico, Cálice!

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue.

Em mais uma música que critica a ditadura militar, Chico faz uso de palavras proferidas por Jesus, onde pede ao Pai (Deus) que se possível afastar o cálice, que quer dizer passe logo este sofrimento. No refrão acima, observamos também a repressão feita pela ditadura com a palavra cálice que pode ser entendida com cale-se.

Li em outro blog uma resenha bem legal sobre a música, extrai algumas partes:

De vinho tinto de sangue 
O “cálice” é um objeto que contém algo em seu interior. Na Bíblia esse conteúdo é o sangue de Cristo, na música é o sangue derramado pelas vítimas da repressão e torturas.


Como beber dessa bebida amarga
A metáfora do verso remete à dificuldade de aceitar um quadro social em que as pessoas eram subjugadas de forma desumana.


Tragar a dor, engolir a labuta
Significa a imposição de ter que agüentar a dor e aceitá-la como algo banal e corriqueiro. “Engolir a labuta” significa ter que aceitar uma condição de trabalho subumana de forma natural e passiva.


Mesmo calada a boca, resta o peito
Os poetas afirmam que mesmo a pessoa tendo a sua liberdade de pronunciar-se cerceada, ainda lhe resta o seu desejo, escondido e inviolável dentro do seu peito.


Silêncio na cidade não se escuta
O silêncio está metaforicamente relacionado à censura, que, desta forma, é entendida como uma quimera, um absurdo inexistente, porque, na medida em que o silêncio não se escuta, o silêncio não existe.


De que me vale ser filho da santa / Melhor seria ser filho da outra
Não fugindo à temática da religião, Chico e Gil usam de metáforas para mostrar suas descrenças naquele regime político e rebaixam a figura da “pátria mãe” à condição inferior a de uma “puta”, termo que fica subentendido na palavra “outra”.


Outra realidade menos morta
Seria uma outra realidade, na qual os homens não tivessem sua individualidade e seus direitos anulados.


Tanta mentira, tanta força bruta
O regime militar propagandeava que o país vivia um “milagre econômico” e todos eram obrigados a aceitar essa realidade como uma verdade absoluta.


Como é difícil acordar calado / se na calada da noite eu me dano
O eu-lírico admite a dificuldade de aceitar passivamente as imposições do regime, principalmente diante das torturas e pressões que eram realizadas à noite. Tudo era tão reprimido que necessitava ser feito às escondidas, de forma clandestina.


Quero lançar um grito desumano / que é uma maneira de ser escutado
Talvez porque ninguém escutasse as mensagens lançadas por vias pacíficas e ordeiras, uma das possibilidades, por conta de tanto desespero, seria partir para o confronto.


Esse silêncio todo me atordoa
Esse verso denuncia os métodos de torturas e repressão, utilizados para conseguir o silêncio das vítimas, fazendo-as perderem os sentidos.


Atordoado, eu permaneço atento
Mesmo atordoado o eu-lírico permanece atento, em estado de alerta para o fim dessa conjuntura, como se estivesse esperando um espetáculo que estaria por vir.


Na arquibancada, pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa
Entretanto, o espetáculo pode ser ironicamente, somente o surgimento de mais um mecanismo de imposição de poder do regime, representado pelo monstro da lagoa.


De muito gorda a porca já não anda
Essa “porca” refere-se ao sistema ditatorial, que, de tão corrupto e ineficiente, já não funcionava. O porco também é um símbolo da gula, que está entre os sete pecados capitais, retomando a temática de religiosidade e elementos católicos.


De muito usada a faca já não corta
Demonstra inoperância, ou seja, mostra o desgaste de uma ferramenta política utilizada à exaustão.


Como é difícil, pai, abrir a porta
É expresso o apelo para que sejam diminuídas as dificuldades, mas ao mesmo tempo apresenta a tarefa como sendo muito difícil. A porta representa a saída de um contexto violento. Biblicamente, sinaliza um novo tempo.


Essa palavra presa na garganta
É a dificuldade para encontrar a liberdade, a livre expressão. É o desejo de falar, contar e descrever a todos a repressão que está sendo imposta.


Esse pileque homérico no mundo
Refere-se ao desejo de liberdade contido no peito de cada cidadão dos países vivendo sob os vários regimes autoritários existentes no mundo.


De que adianta ter boa vontade
É um autoquestionamento sobre a ânsia de lutar pela liberdade, uma vez que o mundo estava ao avesso. Refere-se a uma frase bíblica: “paz na terra aos homens de boa vontade”.


Mesmo calado o peito resta a cuca dos bêbados do centro da cidade
Mesmo sem liberdade o homem não perde a mente e pode continuar pensando.


Talvez o mundo não seja pequeno nem seja a vida um fato consumado
A partir deste verso o eu-lírico sugere a possibilidade de a realidade vir a ser diferente, renovando suas esperanças.


Quero inventar o meu próprio pecado
Expressa a vontade de libertar-se da imposição do erro por outros para recriar suas próprias regras e definir por si só, quais são seus erros, sem que outros o apontem. Tem o significado de estar fora da lei. O verbo aproxima-se do desejo urgente e real de liberdade.


Quero morrer do meu próprio veneno
Neste verso está implícito que ele deseja ser punido pelos erros que ele vier a praticar seguindo o seu livre-arbítrio, e não, tendo seu desejo cerceado, punido por erros que o sistema acha que ele poderá vir a cometer.


Quero perder de vez tua cabeça / minha cabeça perder teu juízo
Traz a idéia de que o eu-lírico deseja ter seu próprio juízo e não o do poder repressor. Quer decapitar a cabeça da ditadura e libertar-se do juízo imposto por ela, para ser dono de suas próprias idéias.


Quero cheirar fumaça de óleo diesel / me embriagar até que alguém em esqueça
Para encerrar, Chico e Gil usaram uma imagem forte das táticas de tortura. Para fazer com que os subjugados perdessem a noção da realidade, dentro da sala os repressores queimavam óleo diesel, cuja fumaça deixava-os embriagados. Entretanto, os subjugados também possuíam táticas antitortura, e uma das artimanhas era justamente fingir-se desmaiado, pois, enquanto nesta condição, não eram molestados pelos torturadores.
 Sérgio Soeiro — 18 de setembro de 2009 

A mensagem mais importante que deixo ao ouvir esta música, é que o cale-se da ditadura não calou a voz nem a mente de Chico Buarque que mesmo com toda repressão foi um dos maiores opositores da ditadura.

Assim termino esta série de posts, aguardem os próximos.

Amplexo...




sexta-feira, 2 de abril de 2010

Especial Chico Buarque - Acorda amor (Parte 4/5)

Hoje, na quarta parte desta homenagem, farei meus comentários sobre uma música que até pouco tempo era, pelo menos a mim, desconhecida: Acorda amor. 

Para situar aos leitores, esta música foi escrita no meio do regime militar na década de 60 onde a censura era muito forte e os artistas não podiam se expressar de qualquer forma, pois estariam correndo sérios riscos, mas nesta música, Chico Buarque "bota a boca no trombone" e fala mesmo, vejamos:

Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição [...]
 
Notem que no início da música o autor diz que teve um pesadelo, que na verdade eram fatos recorrentes, pois mais a frente ele diz "[...] Não é mais pesadelo nada / Tem gente já no vão de escada / Fazendo confusão, que aflição [...]", naquela época a "dura" (policia) invadia as casas para captura as pessoas que estavam divergentes do regime militar.
 
Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecer
 
A falta de esperança também é representada na estrofe acima, assim como os "desaparecimentos" da época.
 
Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão 
 
Na última estrofe, diz que mesmo se escondendo e fugindo a ditadura, vai atrás, e recomenda a seu amor que não discuta e nem reclame à toa pois a policia prendia por motivos banais.
 
Então que poderá nos defender?
 
O autor chama o ladrão em todas as estrofes, pois ele acredita que se a policia não pode ajudar, quem mais pode?
 
A título de curiosidade, esta música foi composta por Leonel Paiva e Julinho da Adelaide o segundo era o próprio Chico Buarque, que usava um pseudônimo para ficar "invisível" à ditadura.
 
Clique aqui para assistir um vídeo da música com base na filme "Pra Frente, Brasil!"

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Amplexos...